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Estudo do Brasil de bem antigamente

Paleontologia no estudo da biodiversidade
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Com o objetivo de conhecer a evolução da fauna de répteis do Sudeste do Brasil desde o Cretáceo Superior (entre 99,6 milhões e 65,5 de milhões anos atrás), Hussam Zaher, professor titular e curador das coleções de herpetologia e paleontologia do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), incluiu, de forma pioneira dentro do Programa Biota-Fapesp, dados paleontológicos no estudo da biodiversidade.
De acordo com Zaher, que coordena o Projeto Temático “Evolução da fauna de répteis no Sudeste brasileiro do Cretáceo Superior ao recente: paleontologia, filogenia e biogeografia”, apoiado pela Fapesp, a dimensão espacial e temporal da paleontologia é uma “chave muito importante” para o entendimento da construção biológica da biodiversidade.
“Em nossos estudos procuramos entender os pulsos de expansão e retração da fauna ocorridos nos últimos 70 milhões de anos e que são responsáveis pela modelagem da biodiversidade atual de répteis”, explicou.
Um dos pontos principais foi criar uma estratégia exploratória para fazer várias campanhas de campo, explorando o Cretáceo e o Cenozóico brasileiro em busca de novos afloramentos e de informação paleontológica. Nessa busca, o grupo coletou material precioso e importante no Estado de São Paulo e descobriu uma localidade fossilífera para o Brasil.
“Nessa localidade nova descobrimos dinossauros muito completos e que representam uma descoberta ímpar para a paleontologia brasileira”, disse Zaher.
No grupo de estudo da fauna recente de répteis, as pesquisas se desenvolveram em torno de coleções científicas em localidades-chave no Sudeste. Será publicada uma lista das espécies de répteis de São Paulo, com dados georreferenciados para cada uma delas. Segundo Zaher, esse é o levantamento mais completo das espécies de répteis no Estado.
“Produzimos também inventários herpetológicos muito completos dos parques estaduais Carlos Botelho, Jacupiranga, Morro do Diabo e da Estação Ecológica do Bananal, todas localidades na Mata Atlântica paulistana”, disse.
O período Quaternário – momento geológico mais recente da história da Terra, que vai de 1,5 milhão de anos atrás até os últimos 10 mil anos – também foi um dos focos do estudo. O grupo orientado por Zaher buscou a megafauna das fases mais recentes do Quaternário e as faunas de répteis de interesse. Um trabalho monográfico descreveu todo o material Quaternário de répteis do Brasil conhecido até agora e encontrado em cavernas.
Serpentes com patas - Inicialmente as pesquisas se restringiram ao Sudeste, mas no decorrer do projeto surgiram oportunidades de analisar materiais de toda a América do Sul e de outros continentes, o que deu ao Projeto Temático uma dimensão internacional.
Do Cretáceo Superior na Patagônia argentina, Zaher estudou o fóssil da espécie mais primitiva de serpente, que ainda mantém preservada uma região sacral e patas posteriores bem desenvolvidas. A descoberta sustenta a hipótese de que as serpentes se originaram no ambiente terrestre, e não no marinho, conforme o pesquisador descreveu em artigo publicado na revista Nature em 2006.
“Essa descoberta está mudando o conceito em torno da origem e evolução das serpentes. Esse foi um resultado expressivo da nossa busca para desvendar questões evolutivas sobre grupos animais complexos”, ressaltou.
Os pesquisadores também procuraram entender a filogenia das serpentes mais evoluídas da América do Sul, que são os colubrídeos xenodontíneos. Para isso, trabalharam bastante em cima de dados moleculares.
“Em 2007, sequenciamos centenas de espécies. Publicamos, há alguns meses, uma filogenia dos xenodontíneos do Novo Mundo, que inclui 130 espécies, o que representa uma porcentagem expressiva dessa importante irradiação de serpentes e a amostragem mais completa publicada até agora para o grupo”, afirmou.
Descobertas em Galápagos - Em 2007, surgiu a oportunidade de estudar a diversidade de serpentes nas Galápagos, por meio de um convite do Museu Equatoriano de Ciências Naturais. As célebres ilhas no Pacífico foram fundamentais para que o naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882) elaborasse sua teoria da seleção natural e evolução das espécies.
Por ser um ambiente isolado e por estar próximo do noroeste da América do Sul, potencialmente a região poderia manter grupos remanescentes relacionados à expansão das serpentes na América do Sul (depois da formação do istmo do Panamá) e à diversificação desse grupo.
O grupo de Zaher montou uma expedição com oito pesquisadores brasileiros e equatorianos que, durante 15 dias, realizaram coletas em 15 ilhas. “Foi a maior coleta já feita nos últimos 50 anos em Galápagos”, disse.
O grupo observou mais de 300 serpentes, coletou mais de 150 amostras de tecidos e 40 indivíduos, formando uma amostragem extensa e única da diversidade de serpentes encontrada no local.
A coleta é considerada importante por ter resultado na identificação de uma nova espécie de serpente e por ter revelado uma diversidade ainda pouco entendida. Segundo Zaher, os estudos moleculares e morfológicos que estão sendo realizados vão mudar a taxonomia e a sistemática das serpentes das Galápagos.
Ao longo dos cinco anos do projeto no âmbito do Biota-Fapesp foram coletados milhares de exemplares da fauna recente e centenas de exemplares fósseis. Foi construído um laboratório de paleontologia, uma nova coleção de paleontologia no Museu de Zoologia da USP e uma coleção de tecidos com 12 mil amostras.
Atualmente, estão sendo sequenciadas 800 espécies de lagartos e serpentes para 12 genes. Os resultados serão desenvolvidos na continuidade dos estudos, em nova fase do projeto de pesquisa.
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